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domingo, 30 de maio de 2010

A Festa no Céu


Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no Céu.

Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de vôo.

- Que não tem pena não vai poder ir a ao Céu – berrava aMaritaca toda orgulhosa.Imaginem quem foi dizer que ia também à festa...

O Sapo-Boi,que não querendo ficar pra trás, tratou logo de dizer:- Eu também vou.

A Maritaca ficou surpresa:- Como?! Sapo não voa

.- E precisa?- Como você é ignorante. Fala pros cotovelos. Onde já se viu sapo voar?

Pois bem, o Sapo-Boi disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma.- Sou convidado de honra do São Pedro. Ele me disse que nãoabre o portão do Céu enquanto eu não chegar.

Os bichos só faltaram morrer de rir e Maritaca, então, nem se fala. Disparou a falar mal do Sapo-Boi. Dizia que ele era pesado enem sabia dar uma corrida, seria capaz de aparecer naquelas alturas.

- Sua língua, Dona Maritaca, não é feita de aço, mas ela cortauma navalha. Para não ter que brigar com a Maritaca, o Sapo-Boi saiu deperto, resmungando pra si mesmo: Essa Maritaca é como pernilongo, só cala o bico com um tapa.

O Sapo-Boi tinha seu plano. Estão rindo de mim, mas não perdem por esperar. Duas palavras abrem qualquer porta:puxe e empurre. Vou nesta festa nem que tenho que pregar penas por todo o corpo. Tenho uma idéia: vou procurar o Urubu. Posso descolar uma carona. A esperteza é fazer isto com arte! Não há urubu que não cobiçe uma boa carniça. Basta-me oferecer pra ele as carniças do brejo que ele me leva.

São as pequenas coisas que fazem as grandes diferenças – assim foi pensando o Sapo-Boi. Na véspera da Festa do Céu, procurou o Urubu e deu uma prosa boa divertindo muito o dono da casa. Prometeu mundo e fundos pro carniceiro.

Depois disse:- Você vai à Festa no Céu.- Vou sim. Todas as aves foram convidadas. Se você fosse uma ave, teria sido também – disse o Urubu.

O Sapo-Boi que era muito vaidoso e orgulho até os cabelos e só pra não dar o braço a torcer, completou:

- Bom, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido. Tem que me apressar, ainda vou me arrumar para ir a Festa no Céu.

O Urubu também ficou surpreso:- Você vai mesmo?- Se vou? Claro!

- De que jeito?- Indo – respondeu o Sapo-Boi com sua bocarra escancarada, todo confiante. - Até lá, camarada Urubu, sem falta!

Em vez de sair da casa do Urubu, o Sapo-Boi deu um pulo pela janela do quarto do Urubu e vendo a viola, em cima da cama, meteu-se dentro dela, encolhendo-se todo, ajuntando bem as penas longas.

Se você controla os pés, controla a mente.

Ficou quietinho: Aqui me ajeito. Vou ou não vou na Festa?! Sempre tem um chinelo velho para um pé cansado.

O urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tira-colo e bateu asas para o céu, vrru-rru-rrum...

O Sapo-Boi ficou na sua, bem amoitado no fundo da viola.

Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola em um canto e foi procurar as outras aves pra prosear.

O Sapo-Boi botou um olhão de fora e, vendo que estava sozinho, ninguém pra xeretar, deu um pulo e ganhou a pistada Festa, todo satisfeito.

Não queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o sapo pulando no céu! Perguntaram e perguntaram curiosas:

- Como você chegou até aqui?

Mas o Sapo-Boi, esperto demais, só fazia conversa mole:- Chegando, uai.

A Maritaca não acreditava no que via: tem carne escondida de baixo desse angu. Em terra de cego, quem tem um olho é rei, dois é deus e três é o diabo. Ainda descubro com esse bocudo veio parar aqui.

A festa começou e o sapo tomou parte se exibindo o tempo todo. Nem pro Urubu ele quis contar. Foi até arrogante:

- Eu não lhe disse que vinha? Cabra-macho não bebe água, masca fumo e engole a baba.

Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, o Sapo-Boi foi-se esgueirando e correu para onde oUrubu havia deixado a viola. Encontrou a viola e acomodou-se, como da outra feita.

O sol ia saindo, acabou-se a festa e os convidados foram voando, cada um para seu destino.

O Urubu agarrou a sua viola e tocou-se para a terra, vrru-rru-rrum...Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva o urubu espiando para dentro do instrumento viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola. Só os enormes olhos brilhando.

- Ah! camarada sapo! É assim que você vai à festa no Céu?- Uma carona não faz mal a ninguém – respondeu o Sapo-Boi, meio sem jeito.

- Então foi desse jeito que você veio?- Coác!

-Usando um pouco minha inteligência, né, camarada. O Urubu achou o Sapo-Boi muito folgado e, além do mais, ele contou muito papo na festa.

-Me fez de bobo. Se tivesse ao menos me contado. Merece um castigo – concluiu o Urubu.- Vou te jogar lá embaixo – avisou pro Sapo-Boi.

- Cê tá louco?! – berrou o Sapo-Boi, escancarando o bocão.

O Urubu estava decidido em atirar o Sapo-Boi lá de cima.

- Pode escolher: quer cair no chão ou na água? O Sapo-Boi desconfiou da proposta: conhecendo o urubu, ele vai me pirraçar. Boca de mel, coração de fel. Vai me jogar onde eu não escolher. Para quem está se afogando, jacaré é tronco. Cachorro mordido de cobra tem medo até de lingüiça. Então, o Sapo-Boi querendo ser mais esperto que o Urubu, foi logo dizendo:

- Me joga no chão mesmo.

Urubu ficou surpreso com o pedido. Este sapo deve ter pirado.

- Tem certeza que isso mesmo que você quer?

- Claro, camarada Urubu – completou o Sapo-Boi, resmungou pra si mesmo:- O destino não é uma questão de sorte, é uma questão de escolha. E, naquelas alturas, o Urubu emborcou a viola. O sapo despencou-se para baixo e veio zunindo. E rezava:

- Coác! Se eu desta escapar, nunca mais boto as patas nas alturas! Nem converso demais. É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é tolo, do que falar e acabar com a dúvida.

E vendo as serras lá embaixo, berrou desesperado:

- Coác! Arreda pedras! E as pedras não arredaram. O Sapo-Boi então pode concluir antes de esborrachar :

- A esperança é um urubu pintado de verde. Bateu em cima das pedras como um tomate maduro, esparramando-se todo. Ficou em pedaços. Conta-se, lá pras bandas do brejo, que Nossa Senhora, com pena do infeliz sapo, juntou todos os pedaços do seu corpo esparramado nas pedras e o sapo viveu de novo. Aprendeu uma sábia lição: Nosso verdadeiro inimigo está em nós mesmos. Não são os grandes planos que dão certo, são os pequenos detalhes. Não cuidei dos detalhes.

- Por isso o sapo tem o couro todo cheio de remendos. A primeira vítima da ignorância é o próprio ignorante – explica a Maritaca, sempre com certa maldade nos olhos esverdeados toda vez que conta essa história.

Um comentário:

  1. Hummm...adorei seu blog..esta estoria do sapo...conto pros meus alunos..muito boa essa sua iniciativa de fazer um blog desse tipo, precisamos sair desse automatismo reinante, e viajar mais no mundo da fantasia...quem sabe assim voltamos a pensar rsrs....beijos...

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